Tudo passa… Mas Fleabag fica (╥﹏╥)
Para quem disse que isso aqui é só comédia, obrigada pelo soco no estômago sem aviso
Há um tempo comecei a assistir Fleabag e achei tão interessante como aquela personagem principal conversava com a gente, quebrando a quarta parede. Sou apaixonada por esse tipo de interação, porque faz eu me sentir em um livro onde estou lendo os pensamentos do protagonista, me traz uma sensação muito gostosa e torna a experiência muito mais íntima para mim.
Essa foi uma série que eu não consegui simplesmente assistir de forma leviana, me pesou tanto certas coisas que foi impossível não sair chorando no fim.
Foi pesadíssimo.
Para começar, eu fiquei puta comigo com uma coisa muito específica: como termino uma série sem notar que a protagonista não tem nome? Que a maioria da família dela nem tem nome? Isso é um fato bem importante, sabe? E eu só reparei um pouco antes do momento em que a madrinha não conseguia chamar nenhum deles pelo nome. Eu nunca me senti tão silenciosamente enganada.
Era essa a intenção da criadora e eu caí como um patinho.
Algumas coisas dentro da série me fizeram pensar muito, como:
SEX-EXPOSIÇÃO
Sobre a Sex-exposição... aí dá até uma sensação ruim lembrar desse momento horrível.
Desde o início eu venho acumulando um nó na garganta e uma sensação muito ruim em relação à Madrinha, que, aliás é muito parecida com a Fleabag em vários sentidos que acabavam justificando o ódio entre as duas que enxergavam suas caraterísticas uma na outra (as ruins e as boas), mas vou ignorar esse fato e falar mesmo sobre o meu desgosto por essa mulher. Uma cobra que não poupou esforços para ser uma pessoa ruim.
Quando ela entrega a bandeja para a Fleabag no momento em que ela chega na exposição, deixando bem claro como ela enxergava ela, já iniciou o meu sofrimento. A Fleabag não era obrigada a ir, sinceramente se eu fosse ela eu não me daria a esse esforço por uma mulher que claramente me detesta, mas ela QUIS por que ela gosta de fazer parte da vida das pessoas ao mesmo tempo que ela não gosta (isso tem muito a ver com a perda da melhor amiga e o fato dela não querer se sentir tão sozinha quanto ela estava, se esforçando até demais para tentar se apoiar naqueles que dizem ser sua família).
Mas talvez isso não tenha sido o pior (dessa pequena cena, porque essa exposição me rendeu muito, muito o quê? Trauma né), porque quando aconteceu eu pensei (não só eu, sei que a Fleabag também pensou) que o pai iria intervir de alguma forma, com tipo um "hahaha era brincadeira dela filha, relaxa e vai curtir a exposição", mas, na verdade, ele se calou, como se aceitasse que aquela mulher tratasse a filha dele daquela forma, como alguém menor que eles, como se a Fleabag merecesse ser tratada daquela forma. Aquele eu considero o primeiro ato de traição da noite.
Mais tarde, o segundo ato de traição aconteceu quando ela fez algo sobre a situação e o pai, que já tinha me decepcionado antes, chega jogando na cara coisas desnecessárias para o momento e bem picotadas, como se ele só tivesse pegado o que a madrinha falou para ele antes e copiado. Como uma marionete.
O terceiro, foi a irmã que eu realmente não esperava, mas nunca confiei totalmente como a Fleabag tinha se permitido fazer. Eu sempre soube que se o marido dela falasse qualquer coisa, ela iria acreditar porque ela queria muito acreditar, então eu aguardei a traição, SÓ ESPEREI QUE PODIA SER EM OUTRA HORA PELO MENOS.
Resumindo, todas as interações trocadas dentro da exposição vinham com a intenção (de forma proposital e não proposital) de reduzir a existência dela a nada, é só mais um objeto, só mais uma das artes ali exposta, pronta para ter seus erros apontados. MEU DEUS, ESSA FOI A INTENÇÃOOOOOO. Gradualmente, para ela, era como se enchesse um balão, ela parecia a um passo de explodir, e eu não estava muito diferente dela, me sentia cada vez mais sufocada e enclausurada vendo aquilo, sem poder fazer nada, silenciada por uma tela que me impedia de tirá-la dali.
Eu sofri tanto calada que realmente senti a garganta travada e só percebi no fim do episódio que eu não tinha parado de chorar compulsivamente.
Quando ela começa a andar sem rumo e destruída, eu sinto muito a dor dela. EU SENTIA TUDO O QUE ELA SENTIA. Nós sufocávamos, nós afundávamos, nós chorávamos com a cabeça vazia, nós não sentíamos vontade de existir. FOI UMA EXPERIÊNCIA EXTRACORPÓREA ESSE NEGÓCIO. Foi sofrido.
SOLIDÃO
Às vezes sinto que eu não tenho uma pessoa com quem posso falar sobre todas as coisas, mesmo tendo muitas pessoas ao meu redor. Porque não é exatamente sobre ter alguém físico, mas sim sentir que você tem uma pessoa, é algo mais fundo, sabe? A Fleabag tinha isso, mas a pessoa morreu. Ela estava totalmente sozinha.
Tão sozinha que ninguém chegou nela para falar sobre o luto. Não que ela tenha muitas pessoas no convívio dela para criar esse momento, mas das poucas que tinham, nenhuma delas se dispôs a ouvir qualquer coisa a falar a respeito e ela precisava tanto disso. Ela queria isso. Mas sabia que não podia pedir, era algo que tinha que partir de outras partes. ELA SÓ QUERIA QUE ALGUÉM PERGUNTASSE: "como você está?" OU "precisa de alguma coisa?" SINCERAMENTE E DE CORAÇÃO, NÃO POR OBRIGAÇÃO OU EDUCAÇÃO.
Mas não tinha uma pessoa disposta, todos levavam ela na ironia, na gracinha, só porque ela fazia piadas para disfarçar, ninguém percebia o que tinha por trás disso, ela era totalmente desvalorizada e a dor dela era tão irrelevante que era invisível para os outros. Ela era esquecível. A madrinha sempre tentava reforçar essa visão dela para os outros, principalmente para o pai, tanto que pintou aquele quadro ridículo onde a Fleabag está de costas.
Afinal, quem não tem rosto não precisa ser lembrado, né?
Odeio essas pequenas coisas indiretas que deixam claro que a pessoa não quer a sua presença, elas doem mais que tapas na cara.
MADRINHA X FLEABAG
Eu acabei já escrevendo sobre a origem da relação destrutiva das duas mais acima, mas falando brevemente, é aquele negócio: semelhantes que se repudiam.
O fato da Fleabag lembrar muito a mãe dela também influencia bastante na relação das duas, como se ela fosse um lembrete constante para a Madrinha que ela é casada com o marido da melhor amiga. Ela só quer que isso desapareça para ela não precisar ficar carregando esse peso.
As duas tem essa relação muito forte com o sexo também, mas aí entra em outro ponto que não irei comentar sobre.
PAI X FLEABAG
A que mais dói, sinceramente.
Me dá ódio o desinteresse dele sobre as coisas, qualquer coisa. Entendo a situação dele, é um senhor já de idade, viúvo, que perdeu uma esposa que amava muito, mas isso nunca vai justificar a falta de comprometimento paterna dele. Desde o começo da série é perceptível essa ausência dele, ele até tenta abafar dando entradas para palestras que aconselham coisas que ele acha ser responsabilidade da mãe morta, mas a verdade é que ele não quer conversar, não quer nada que envolva realizar o papel de pai.
Elas sabem disso, não é um segredo, e a única que julga essa forma de tentar se fazer presente na vida das filhas sou eu. Porque para mim isso nunca vai ser o suficiente.
Como pode eu, bem querida na minha casinha, me estressar e chorar tanto por relações em que eu nem estou envolvida? Como um pai fala para a sua filha que gosta dela, mas que não a ama? Assim, como se tivesse falado que amanhã é segunda.
É tão complicado entender esse sentimento, colocando na minha situação real, eu penso: AMO os meus pais, é um amor incondicional, onde eu entregaria a minha vida por eles se fosse necessário, e faria de tudo para eles serem felizes porque sinto AMOR por eles. Mas eu não GOSTO deles, não GOSTARIA de me relacionar com o tipo de pessoa que eles são porque acho que eles têm certas caraterísticas que eu não conseguiria lidar se fossem meus amigos. Entende?
As duas palavras têm uma intensidade tão diferente e para mim isso é meio óbvio, por isso não consegui aceitar que pode ter sido só um engano nas palavras (queria muito ter a certeza dessa inversão). A mulher fez a cabeça dele tanto assim? Ou sou tão louca assim?
IRMÃ X FLEABAG
A irmã dela teve uma grande evolução de uma temporada para a outra, isso é inegável. Se parar para analisar algumas diferenças, as duas têm uma forma de se comunicar completamente diferente e por isso a relação é péssima na primeira temporada, mas vejo que elas superaram muito essas diferenças, como se finalmente abraçassem e aprendessem a lidar com isso.
Ela foi se aproximando muito mais da irmã, realmente se esforçando para criar uma relação entre as duas, percebendo que ela não precisa ir muito longe ou confiar em quem não merece a sua confiança porque a Fleabag estava ali, bem disposta a ser o apoio de que ela precisa (mesmo toda lascada e fudida). Muito dessa percepção veio com ela, buscando entender ela mesma, o que ela quer de verdade e o que ela merece ter. Ela finalmente escolheu ver quem ela é de verdade e por isso sinto ela muito mais aberta.
Naquele jantar (o fatídico jantar), foi quando eu senti que a irmã VIU a Fleabag pela primeira vez de verdade, porque mesmo a protagonista estando naquele estágio de foda-se tudo, completamente invisível ali e nem ligando para isso, ela olhava, ela se preocupava silenciosamente. Foi exatamente aí que senti que a relação delas ia para frente mesmo.
E realmente aconteceu, elas se tornaram mais fortes e o relacionamento das duas também, por isso entendo quando dizem que a frase “essa é uma temporada sobre o amor” é sobre elas.
PADRE X FLEABAG
A maior parte do meu entretenimento na segunda temporada se deu por isso aqui. Foi muito interessante ver essa relação proibida, a criadora acertou muito ao adicionar esse padre no enredo.
70% do meu coração definhou e chora até hoje com a frase “It’ll pass” e os outros 30% sobreviveram o suficiente ao trauma para contar história.
Gosto de como estava caminhando, como ele VIA ela, e como percebia os sumiços dela para dialogar com a gente (foi uma loucura, isso aliás). Eu me encantei de verdade com o primeiro relacionamento saudável dela depois da melhor amiga morrer, em que a outra parte realmente está ali se preocupando com ela, VENDO ELA. Alguém que está disposto a enxergar, a perguntar, a ouvir, a entender, a simplesmente estar ali, a querer entrar na vida dela de verdade.
Esse homem não é um padre, minha gente, é um milagre enviado por Deus que ouviu as minhas preces!!!!! (Eu sendo agnóstica e não rezando para Deus, MAS É SÓ UMA FORMA DE DIZER KKKKKKKK)
Existe a teoria de que ele só vê esses sumiços dela porque ele faz o mesmo com Deus, e eu até gosto dessa, mas é muito melhor eu me convencer de que ele vê ela de verdade, é muito mais bonito, significativo e acalma meu coraçãozinho que sonha demais.
Quando ela vê que ele percebe as coisas que ela faz, ela se sente mais vista, menos esquecível. Ela começa a se sentir mais nervosa e ansiosa, com a sensação que ele está invadindo o espaço dela, mas é porque ELE TA MESMO. PORQUE ALGUEM FINALMETE TA ALI POR ELA, VÊ ELA POR INTEIRO E NÃO FOGE.
Ela sempre soube que nessa escolha sagrada ela nunca ia ser a escolhida, porque ela nunca é, mas ela não perdeu as esperanças mesmo estando competindo com o próprio Deus. “It’ll pass” foi a frase que ela contava os minutos para não ouvir. Porque, quando ela ouvisse, ia perder de novo a única pessoa que entendia ou estava aberta a entender. Ai, que dor :(
Bom, eu tinha mais coisas para falar? Sim, nunca é o suficiente e eu penso em mais coisas sobre essa serie toda hora. Eu amo muito Flaebag, e isso aqui é so um pedacinho do que que acabo vendo dentro desse universo supercotidiano, completamente diferente do que eu sempre considero como serie favorita mas que me tira completamente da realidade e me faz questionar tudo.
FIM :)